sexta-feira, janeiro 06, 2017

O fanatismo é divisão entre religiões Muitas vezes, a ignorância revestida de sabedoria é a primeira causa da intolerância

«Acaso, não vos prolongamos as vidas, para que, quem quisesse refletir, pudesse refletir, e não vos chegou o admoestador?»— (Alcorão, 35:37).
Prezados Irmãos,
Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum", (que a Paz esteja convosco), que e representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade.
O mundo inteiro – e o nosso querido país não é exceção – não é lugar de harmonia, compreensão e tolerância, mas o contrário.
É viveiro de divisão, de violência, de desunião, de guerra, de destruição, de injustiça, de intransigência. E estes afrontamentos não só se dão nos campos financeiros, econômicos ou políticos, se não inclusivamente, e ultimamente com maior incidência, no religioso. Às vezes atenta-se derramando sangue; mas outras vezes, utilizando tinta.
Por isso, bem se diz que “a palavra é mais poderosa que o canhão”. Daí é que há que ser muito cuidadoso na hora de destapar velhas feridas, sobretudo, quando se consideravam definitivamente superadas.
...Hans Küng, teólogo e historiador das religiões, colega e amigo durante anos do Cardeal Ratzinger (depois Papa Benedicto XVI) na Universidade Alemã de Tubinga, manifestam as suas famosas frases programáticas:
Não haverá paz entre nações sem paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões se não se investigam os fundamentos das religiões. E a isso acrescenta: O problema que se apresenta é o fanatismo religioso, o qual se encontra em todas as religiões e eu acrescento, e também entre os que não crêem nelas”.
“Se estou sentado na mesma mesa - continua dizendo Hans Küng - com judeus e muçulmanos, tenho que partir de que cada uma das 3 religiões é para os seus seguidores uma religião verdadeira. Então tenho que aceitá-lo também como cristão”, e logo acrescenta:
 “Se se adota a perspectiva interna, está claro que cada um dos representantes destas religiões tem, do mesmo modo que eu, a sua própria convicção e fé, uma convicção que sob nenhum conceito queria sacrificar simplesmente por amor à paz. Para mim, como cristão, diz Hans Küng, Jesus cristo significa “o caminho, a verdade e a vida”, mas ao mesmo tempo reconheço que “o caminho, a verdade e a vida” são para o judeu, a Torá e para o muçulmano, o Alcorão. Desta maneira é possível uma convivência baseada no mútuo respeito “...
Pelo contrário, o fanatismo é causa de toda a violência. Os fanáticos que crêem unicamente na sua fé ou nos seus princípios e não toleram que outros pensem diferente deles, estão perdidos; e pelos seus métodos desproporcionados e violentos, estão fora do mesmo grupo religioso, que dizem representar.
Nesta espiral de negatividades, tanto mais necessário se faz, que os dirigentes religiosos orientem os seus seguidores num caminho de paz e tolerância; e antes disso, tratem de obter um sólido e adequado conhecimento mútuo; porque muitas vezes a ignorância revestida de sabedoria, é a causa primeira da intolerância. Fora disso, é necessário que os meios de comunicação informem com objetividade sobre as religiões e não de maneira tendenciosa, como por desgraça sucede hoje muitas vezes nos meios ocidentais, em especial no que respeita ao Islão; quem agora ocupa o lugar dos judeus, que antes eram acusados injustamente e inclusivamente perseguidos.
Agora, novamente, com a renovada tendência de aplicar aos judeus, o injusto apelativo de povo deicida, (mataram Deus) sem o ser, que no passado foi esgrimido, sobretudo na Europa cristã. Dessa forma, ao assinalar novamente os judeus, mantém a dupla de assinalados históricos: Judeus e Muçulmanos, dando passo a uma Europa, unida politicamente através de um “cristianismo” nominal, não religioso... Isto é perigoso e não se deve fomentar...
É necessário e mais do que isso, é essencial; evitar a intolerância religiosa; buscando os pontos de concórdia entre as nossas diferenças; começando com a aproximação, tolerância, solidariedade e irmandade entre os líderes religiosos das diferentes denominações; para que logo, como bom exemplo, se transladem os demais membros das nossas Comunidades. Deixando de um lado o sectarismo fanático e o dogmatismo cego; trazendo um pouco de união, no nosso mundo em crise, dividido e confrontado. Como uma demonstração manifesta de paz, para ser posta como exemplo e referência a nível mundial.
 Fora disso, estamos conscientes que o amor de Deus se complementa com o amor à Pátria; assim, melhorar as nossas relações internas não é suficiente. Devemos tratar de colaborar na solução da problemática nacional, com crítica construtiva e predicando com o exemplo.
A lei de Deus e dos profetas, base do Islão e do Judaísmo, indica-nos que temos que realizar boas obras. No Novo Testamento, base de todas as religiões Cristãs, incluindo a católica, lê-se em Filipe, que a fé sem obras, não vale nada.
A somatória das ações positivas em absoluta convergência dar-nos-ia um comportamento coletivo exemplar.
Pedimos a Deus, que a tolerância religiosa prospere e se fomente e se transmita a outros setores da vida nacional, incluindo a política.
 ...As igrejas de todas as denominações são para guiar a outra vida de forma positiva aos seus correligionários; mas também para velar por eles nesta e para ajudar todos os nossos irmãos necessitados, ainda que sejam de outras religiões; já que são também eles, o nosso próximo. Amin...

Fonte: Reflexões Islâmicas - no. 226 - www.islao.pt /www.alfurqan.pt - alfurqan2011@gmail.com / alfurqan04@yahoo.com