quarta-feira, fevereiro 18, 2009

A Crença no Kadar ou Takdir(Decreto Divino,bom ou mal)
Em Nome de Allah, o Clemente e Misericordioso!
Em primeiro lugar, ele indica que Allah, Deus-Todo Poderoso traçou um plano de toda a sua criação nos seus mínimos detalhes. Por isso, devemos acredita que não existem acidentes na Natureza, e sim que tudo que ocorre foi decretado por Allah, o Altíssimo. Por exemplo, os aspectos relacionados com os movimentos dos astros e as suas respectivas distâncias, a pressão atmosférica, dentre outros foram previamente planejados por Allah, Louvado Seja.
(39:62) –“Allah é o Criador de tudo e é de tudo o Guardião”.
(25:2) –“E criou todas as coisas, e deu-lhes a devida proporção”.
Em segundo lugar, que tais conhecimentos estão registrados num Livro guardado.
(22:70) –“Ignoras, acaso, que Allah conhece o que há nos céus e na terra¿ Em verdade, isto está registrado num Livro, porque é fácil para Allah.”
(57:22) – “Não assolará desgraça alguma, quer seja na terra, quer sejam as vossas pessoas, que não esteja registrada no Livro, antes mesmo que a evidenciemos. Sabei que isso é fácil a Allah.”
Em terceiro lugar, que Allah sabe de tudo que aconteceu e que irá acontecer com todas as suas criaturas.
Logo, Kadar é a crença do muçulmano do pré-conhecimento que Allah, o Altíssimo, tem de tudo e no poder de Allah de conhecer e cumprir com seus planos.
Agora, no que tange aos seres humanos, Allah nos dotou de livre arbítrio, sendo que o mesmo não é total e sim parcial. Existem coisas que foram determinadas por Allah sem que nós possamos interferir. Como, por exemplo, quando iremos nascer, quem serão nossos pais, como serão nossas características físicas, quando iremos morrer, como também a nossa incapacidade de controlar os músculos do nosso coração ou do nosso estomago etc...
(28:68) –“Teu Senhor cria e escolhe, da maneira que melhor Lhe apraz, ao passo que eles não têm faculdade da escolha.” (3:6) – “Ele é Quem vos configura nas entranhas, como Lhe apraz.”
Logo, por estes versículos podemos observar que o menino recém-nascido, por exemplo, não tem faculdade de se transformar em menina. E sim que essa é uma escolha que está somente dentro dos poderes de Allah. E existem outras que nós podemos utilizar o poder de escolha, como com o que queremos estudar, se desejamos praticar o bem ou o mal, com quem queremos casar, se queremos abrir ou fechar a mão, se queremos sentar ou levantar etc...
(91:8-10) – “E lhe imprimiu o discernimento entre o que é certo e o que é errado, que será venturoso quem purificar (a alma), e desventurado quem a corromper.” (78:39) –“Tal será o dia infalível; quem quiser, pois, poderá encaminhar-se para o seu Senhor! “ (64:10) – “Por outra, aqueles que renegarem a desmentirem os Nossos versículos, serão condenados ao inferno, onde morarão eternamente. E que funesto destino!” (18:29) – “Dize-lhes: A verdade emana do Senhor; assim pois, que creia quem desejar , e descreia quem quiser.” (2.286) – “Allah não impõe a nenhuma alma uma carga superior às suas forças. Beneficiar-se-á com o bem quem o tiver feito e sofrerá o mal quem o tiver cometido. Ó Senhor nosso, não nos condenes, se nos esquecermos ou nos equivocarmos! Ó Senhor nosso, não nos imponha carga, como a que impuseste aos nossos antepassados! Ó Senhor nosso, não nos sobrecarregues com o que não podemos suportar! Tolera-nos! Perdoa-nos! Tem misericórdia de nós! Tu és nosso Protetor! Concede-nos a vitória sobre os incrédulos!”
A recompensa e o castigo estão vinculados à liberdade. Se não houvesse liberdade, não haveria castigo. É inconcebível que Allah tenha predeterminado para seus servos algo que não pudessem evitar e logo os castigasse por isso. Assim sendo, Allah não julga o homem senão dentro dos limites da sua liberdade e capacidade, não o responsabiliza pelo que temos opção de fazer ou deixar de fazer, se o homem com o bem que tiver feito e sofrerá pelo mal que tenha cometido.
(41:46) – “Quem pratica o bem o faz em benefício próprio; por outra, quem faz o mal é em prejuízo seu, porque o teu Senhor não é injusto para com os Seus servos.”
Muitas pessoas os muçulmanos como sendo fatalista, o que é um grande erro. Em primeiro lugar, vamos definir o que venha a ser fatalismo. Fatalismo é a doutrina de que todos os eventos ocorrem de acordo com um destino fixo e inevitável, onde o homem não controla nem interfere ou afeta. E vimos que o ser humano possui livre arbítrio dentro de um campo limitado onde pode escolher o que fazer.
Agora, como o muçulmano age em relação a fatos que independem e escampam a sua vontade¿ Nesta vida incidem sobre o homem obstáculos que anulam a sua vontade e outros que desviam sua direção e influem sobre os assuntos que não pode afastar nem mudar. Em relação a isto ele aceita tais acontecimentos, quer sejam agradáveis ou não, como vindos de Allah, sem se vangloriar caso sejam bons ou se desesperar caso sejam ruins. Em ambos os casos, Ele agradece a Allah e procura sempre melhorar ou reverter algo, se utilizando dos meios físicos concedidos por Allah para isso. O Profeta Muhammad (SAAS) nos aconselhou advertindo-nos para não nos arrependêssemos ou nos entristecêssemos de acontecimentos, dos quais não temos capacidade de modificá-los. E em um dito disse:
“Esforça-se para adquirires o que é benéfico para ti. Procure o apoio de Allah, e não te desanimes. E se te atingir um contra tempo não digas: se eu tivesse feito isso, teria acontecido aquilo. Ao invés disso diga: Allah decretou assim e o que Ele quis aconteceu. Porque a palavra “se” abre caminho para a ação do Shaitan (Demônio). ”(Compilado por Muslim).
Por exemplo, muitas pessoas ao perderem um ônibus se chateiam e começam a reclamar e a dizer: “Se eu tivesse saído um pouco mais cedo, isso não teria acontecido”; ou,” Se eu tivesse feito aquilo, não teria me atrasado e perdido o ônibus.” Esse tipo de comportam não faz parte da crença muçulmana, pois se Ele perdeu o ônibus é porque estava escrito que ele iria perdê-lo e pronto.
Se Allah conceder um benefício ao ser humano, ninguém poderá removê-lo e se algum mal atingir o ser humano, só Allah poderá removê-lo.
(10:107) – “ E se Allah te infligir algum mal, ninguém, além d’Ele, poderá removê-lo; E se Ele te agraciar, ninguém poderá repelir sua graça, a qual concede a quem lhe apraz dentre seus servos, porque Ele é Indulgente, o Misericordiosíssimo.” (35:2) – “ A misericórdia com que Allah agracia o homem ninguém pode obstruir e tudo quanto restringe ninguém pode prodigalizar, à parte d’Ele, porque é Poderoso, o Prudentíssimo.”
Muitas pessoas reclamam dos acontecimentos que atingem as suas vidas dizendo: Isto não é justo! Por que isso acontece logo comigo¿ No entanto, nós devemos ter em mente que a Justiça Divina não se mede com os parâmetros da justiça humana. O que pode parecer injusto para nós, pode na verdade, ser justo e bom diante de Allah. Exemplificando isso: Como tivéssemos uma criança enferma que necessitasse da aplicação de uma injeção para se curar, a aplicação de uma injeção para a criança pareceria uma injustiça, pois ela só levaria em conta na sua análise a dor a dor que estaria sentindo. Em contrapartida o pai dessa criança, assim como o médico, acharia a aplicação da injeção algo justo e benéfico, pois analisariam isso por outro ângulo (a influência que este medicamento teria sobre a cura da criança). A capacidade mental de uma criança não é igual a de um adulto, da mesma forma que um analfabeto não tem a capacidade de perceber muitas coisas que um intelectual teria. Fazendo uma analogia com esses exemplos, temos que o nosso conhecimento é limitado e o nosso pensamento se baseia em considerações individuais ou pessoais, enquanto que o conhecimento de Allah é ilimitado e infinito.
(2.216) – “É possível que repudieis algo que seja um bem para vós e, quiçá gosteis de algo que vos seja prejudicial; todavia, Allah sabe e vós ignorais.”
O bem e o mal são apenas conceitos relativos. Como por exemplo, um animal que caça outro para se alimentar. O que é bom para um, a subsistência, é ruim para o outro, a morte.
Outro detalha importante é que Allah é nosso Criador, logo Ele não pode ser questionado do porque que fez isso ou aquilo, enquanto nós como criatura Dele, sim, que seremos interrogados.
(21:23) – “Ele não poderá ser questionado quanto ao que faz; elas sim(as criaturas) serão interpeladas.”
Nós também devemos ter em mente que esta vida terrena nada mais é do que um teste. Por isso, muitas vezes somos surpreendidos por desgraças ou situações difíceis, para saber como nos comportaremos diante de tais fatos. O crente, quando se depara com uma desgraça aceita como vinda de Allah e a suporta pacientemente tendo confiança em Allah.
(64:11) – “Jamais acontecerá calamidade alguma, senão com a ordem de Allah. Mas, a quem crer em Allah, Ele lhe iluminará o coração, porque Allah é Onisciente.”
(2:155-57) – “ Certamente que vos poremos à prova mediante o temor, a fome, a perda dos bens, das vidas e dos frutos. Mas tu (ó Mensageiro), anuncia (a bem-aventurança aos perseverantes, aqueles que, quando os aflige uma desgraça, dizem: Somos de Allah e a Ele retornaremos. Estes serão cobertos pelas bênçãos e pela misericórdia de seu Senhor, e , estes são os bem encaminhados.”
Disse o Profeta (SAAS):
“É espantosa a situação do crente! Tudo que acontece é em seu benefício, isto só acontece com o crente. Se lhe acontece algo de bom, ele agradece, e isso é bom para ele, e se lhe acontece um infortúnio, ele se encontra entre os pacientes, e isso é bom para ele.” (Compilado por Muslim).
Mas o muçulmano não deve ficar parado diante de tais situações, e sim atuar se encomendando a Allah. O muçulmano deve-se encomendar a Allah em tudo o que ele for fazer.
(9:51) –“ Dize:Jamais nos ocorrerá o que Allah não nos tiver predestinado! Ele é nosso protetor. Que os fiéis se recomendem a Allah!” (11:88) – “ e meu êxito só depende de Allah, a Quem me recomendo e a Quem retornarei contrito.” (65:3) – “ E o agraciará, de onde menos esperar. Quanto àquele que se encomendar a Allah, saiba que ele lhe será Suficiente, porque Allah cumpre o que promete. CertamenteAllah predestinou uma proporção para cada coisa.”(3:159) – “E quando te decidires, encomenda-te a Allah, porque Allah aprecia aqueles que (a Ele) se encomendam.”
Allah também nos ensinou, através do Alcorão, a não afirmarmos que iremos fazer algo mais tarde sem dizermos Insha-Allah(Se Allah quiser).
(18:23-24) – “Jamais digas deixai, que farei isso amanhã, a menos que adiciones; Se Allah quiser! Recorda teu Senhor quando esqueceres, e dize: É possível que meu Senhor me encaminhe para o que está mais próximo da verdade.”
Agora analisaremos um versículo que geralmente é mal compreendido:
(2-26) – “Com isso desvia muitos e encaminha muitos outros.”
À primeira vista, entendemos que o desvio e o encaminhamento são assuntos predeterminados. Ou seja, que está prescrito por Allah sem que tenhamos escolha. No entanto o Alcorão é auto-explicativo e certas passagens elucidam outras. Ao analisarmos o versículo seguinte vemos que o encaminhamento e o desvio não são impostos por Allah, mas que estão de acordo com o cada de cada indivíduo, devido aos atributos e aos atos inerentes à liberdade e à capacidade de cada um. Assim, se é temente, o Alcorão será para ele orientação e se é depravado será desvio.
Caso observemos os seguintes versículos veremos a descrição dos tementes que merecerão a orientação de Allah:
(29:6) –“ Por outra, quanto aqueles que diligenciam por Nossa causa, encaminhá-los-emos pela Nossa senda. Sabeis que Allah está com os benfeitores. “(2:2-5) – “ Eis o Livro que é indubitavelmente a orientação dos tementes a Allah; Que crêem no incognoscível, observam a oração e gastam daquilo com que os agraciamos; Que crêem no que foi revelado (Ò Muhammad), no que foi revelado antes de ti e estão persuadidos da outra vida. Estes possuem a orientação do Senhor e estes serão os bem-aventurados.” (47:17) – “ Por outra, quanto àqueles que se orientam, ele lhes aumenta a orientação e lhes concede piedade.”
Enquanto que os depravados que merecerão o desvio de Allah são:
(2:26-27) – “Mas, com isso, só se desviam os depravados, Que violam o pacto com Allah, depois de o terem concluído: separam os que Allah tem ordenado manter unido e fazem corrupção na terra. Estes serão desventurados”. (61:5) – “Porém, quando se desviaram, Allah desviou os seus corações, porque Allah não encaminha os depravados.”
Logo, caso tenhamos características dos tementes que seguem as ordens de Allah seremos merecedores do encaminhamento. Caso tenhamos as características dos depravados que as desobedecem seremos merecedores do desvio. Assim, podemos perceber que Allah colocou um sistema de causa e efeito para a Sua orientação e desorientação.
Allah também nos informou, através do Alcorão, que os males que nos atingem é uma conseqüência dos nossos atos e resultado das nossas atitudes.
(42:30) – “E todo infortúnio que vos aflige é por causa do que cometeram as vossas mãos, muito embora ele perdoe muitas coisas.” (30:41) – “ A corrupção surgiu na terra e no mar por causa dos que as mãos dos humanos lucraram. E (Allah) os fará provar algo de que cometeram. Quiçá assim se abstenham disso.”
Existem Dois de Orientação
1 – A orientação que somente indica o caminho, que é a orientação dada pelos profetas.
2 – A orientação que só atua sobre aqueles que aceitaram o primeiro tipo de orientação. Logo, quando Allah encaminha alguém, é quando ele aceitou a primeira orientação; quando desvia alguém, é quando negou a primeira orientação.
Um exemplo prático disso: caso uma pessoa perguntasse onde fica tal lugar e você a orientasse lhe indicando o caminho estaria no primeiro tipo de orientação. Agora, caso essa pessoa lhe perguntasse onde fica tal lugar e você a orientasse e ela lhe pedisse auxílio para chegar até lá e você o colocasse no seu carro e a levase até lá a deixando na porta, estaríamos no segundo tipo de auxílio, onde ela aceitou a sua orientação e ainda lhe pediu auxílio, onde ela aceitou a sua orientação e ainda lhe pediu auxílio para chegar lá.
Allah nos mostrou através do Alcorão que este segundo tipo de orientação é exclusivo Dele e que os profetas não têm este poder.
(28:56) – “Por certo que não és tu que orientas a quem queres; contudo, Allah orienta a quem Lhe apraz, porque conhece melhor do que ninguém os encaminhados.”

BISMILLAH AL-RAHMAN AL-Rahim•Wassalatu Wassalamu Ala Ashraful Mursaleen Allahumma Sali Ala Muhammad ua Aali Muhammad Imploramos a ALLAH (SW), que nos ajude, nos dê uma boa orientação para o benefício do Islã e dos muçulmanos, corrigindo nossos trabalhos, nossas intenções e nossas ações. Agradecemos a ALLAH (SW) que é o único Deus do universo.

Que ALLAH (SW), aceite este trabalho, nos dando uma boa recompensa nesta vida e na outra. Principalmente às pessoas que nos precederam nesse trabalho e nos serviram como orientadores! Subhanna Allah!(Louvado Seja Deus).

Fonte: Islam A sua Crença e a sua Prática – Sami Armed Isbelle – páginas 185 a 191.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

O filho Adotivo do Profeta - Zaid

Zaid b. Háriça
Juro por Deus que o Zaid b. Háriça merecia ser comandante. Foi uma das pessoas a quem eu mais amei." {Profeta Mohammad (SAAS)

Nossa estória começa quando uma mulher de nome Su'da b. Çalaba sai da casa do seu marido para fazer uma visita à tribo de Man. Leva consigo o seu menininho, Zaid b. Háriça al Ka'bi. Ela não havia estado com a tribo por muito tempo, quando todos foram atacados por incursadores dos Banu al Cayn. Os atacantes roubaram o povo de Man, tomaram seu dinheiro e gado, e levaram um bom número de pessoas como cativos. Um dos que foram raptados foi o filho de Su'da, o Zaid b. Háriça.

Ao tempo, Zaid tinha quase oito anos de idade. Ele foi levado para a feira de Ukass, onde foi vendido como escravo a um rico figurão do Coraix por 400 dirhams. O nome desse homem era Hakim b. Hazam b. Khuwailid. Ele comprou um bom número dos escravos que estavam à venda, e os levou consigo para Makka.

Depois que chegou a Makka, recebeu uma visita de cortesia da sua tia, Khadija b. Khuwailid, que foi congratulá-lo pela sua volta segura da viagem. Desejando mostrar a sua estima pela sua tia, ele insistiu em que ela escolhesse um dos escravos que havia adquirido, para que lho desse de presente.

Khadija se pôs a olhar os escravos. Ao invés de examinar os físicos deles, para ver qual poderia ser o mais laborioso, ela lhes perscrutou os rostos. Por fim, decidiu-se pelo Zaid b. Háriça, porque parecia ser o mais inteligente, e o levou consigo.

Não muito tempo depois, Khadija b. Khuwailid casou-se com Mohammad b. Abdullah. Ela desejou dar a ele um presente que fosse singular, e decidiu que o melhor presente seria o seu escravo favorito, o Zaid.

Assim, a criança sortuda cresceu sob os gentis cuidados de Mohammad (S), com quem aprendeu os mais altos padrões de vivência e a mais refinada conduta.

Ao mesmo tempo, a mãe do menino, devastada pelo seu rapto, passava os dias na esperança de que, de algum modo, ele fosse encontrado, e passava as noites chorando. Ela não sabia se ele ainda estava vivo; ou se estava morto, para que, assim, pudesse perder as esperanças e pôr um fim ao seu sofrimento.

O pai da criança se engajava numa contínua busca quanto a ela. Viajava para todos os lugares em que pudesse pensar, e perguntava a todos que encontrava acerca do seu desaparecido filho. Ele compôs versos de partir o coração sobre a sua dor pela sua criança, alguns dos quais foram:

"Chorei pelo Zaid, não lhe sabendo a sina;
"Estaria ele vivo? esperamos que sim,
"Ou será que a morte nos derrotou?
"Juro por Deus que não sei, mas perguntarei;
"Ó Zaid, sará que as planícies te roubaram de nós?
"Ou será que foram as montanhas?
"O sol o traz à minha mente, quando se alevanta,
"E a memória dele me atormenta,
"Quando o sol se assenta.
"Assim hei de passar a vida, até que minha hora chegue,
"Pois todo ser humano é mortal
"Embora a esperança lhe eleve o moral.

Aconteceu que alguns dos membros da tribo de Zaid foram a Makka para celebrarem a estação da peregrinação, à maneira pagã. Estavam andando pela Caaba quando, repentinamente, encontraram-se cara a cara com o Zaid. Eles o reconheceram, disseram-lhe quem eles eram, e lhe perguntaram como fora parar em Makka. Quando eles terminaram de realizar os rituais, voltaram para suas terras e contaram ao pai Háriça que haviam encontrado o seu filho, e relataram tudo o que o Zaid lhes havia dito.

Háriça não perdeu um só momento em preparar a sua montaria e, tendo coletado dinheiro suficiente para comprar a liberdade do seu precioso filho, e levando consigo o seu próprio irmão, Kaab, pôs-se, apressadamente, a caminho de Makka. Ao chegarem, procuraram imediatamente a Mohammad b. Abdullah (S) e disseram:

"Ó filho de Abdul Muttalib, vós, habitantes de Makka, sois apegados a Deus; proporcionais proteção aos indefesos, comida para os famintos, e assistência para aqueles em desespero. Viemos pleitear por nosso filho que está contigo, e trouxemos dinheiro suficiente para comprar a sua liberdade. Sê condescendente conosco e dize-nos o teu preço por ele!"
"Qual seria esse filho a que vos referis?" perguntou Mohammad (S).
"O teu servo, Zaid b. Háriça", responderam.
"Gostaríeis de fazer algo melhor do que comprar a liberdade dele?" perguntou Mohammad.
"E que coisa seria essa?" eles argumentaram.
"Vou chamá-lo aqui. Dai-lhe a oportunidade de escolher entre ir convosco e ficar aqui comigo. Se ele vos escolher, podereis levá-lo sem nada pagar; mas se ele me escolher, não o empurrarei para longe de mim."
"Tu és imparcial e justo além do que alguém possa imaginar!" exclamaram.
E eis que Mohammad (S) mandou chamar o Zaid, e lhe perguntou:
"Sabes acaso quem são estas pessoas?"
"Este é meu pai, Háriça b. Churahil, e aquele é o meu tio, Kaab."
"Estou proporcionando-te uma escolha", Mohammad (S) disse a ele. "Se quiseres, poderás ir com eles; e se quiseres, poderás ficar comigo."
"Prefiro ficar contigo", disse o Zaid.
"Maldito sejas, ó Zaid!", berrou o Háriça. "Preferirias a escravidão ao teu pai e à tua mãe?"
"Após conhecer este homem", disse Zaid, "desejo passar o resto da minha vida com ele."
Quando Mohammad (S) viu o quão Zaid era apegado a ele, dirigiu-o pela mão até à Grande Mesquita, e os dois ficaram de pé defronte ao santuário, e perante um grande número de membros dos coraixitas. Então ele disse:
"Povo do Coraix! Prestai testemunho do fato de que este rapaz é meu filho adotivo e meu herdeiro."

Quando Háriça e Kaab, o pai e o tio de Zaid constataram o quanto Mohammad zelava pelo rapaz, ficaram convencidos de que iria ser melhor para ele ficar com Mohammad (S). Eles voltaram para o seu povo, confiantes de que o Zaid estava em boas mãos, e dando-se muito bem.

Daquele dia em diante, Zaid foi por todos denominado Zaid b. Mohammad, e continuou a assim ser chamado, até ao tempo em que o Mensageiro de Deus (S) recebeu a divina revelação, que abolia a adoção (nos termos ocidentais). O Todo-Poderoso Deus diz, no Alcorão:

"Dai-lhes os sobrenomes dos seus (verdadeiros) pais" (Al Ahzab, 33:5).

E daí em diante foi novamente chamado de Zaid b. Háriça.

Zaid não sabia, ao escolher a Mohammad (S) e não à sua família, que prêmio angariava para si. Não sabia que o mestre a quem preferira ao seu próprio povo era o mestre de todos os povos, e o Mensageiro de Deus para toda a humanidade. Não tinha como saber que um Estado divino estava para se erguer na terra, e que este iria disseminar a retidão e a justiça, de oeste até ao este. Não tinha como saber que ele iria ser o primeiro tijolo da construção desse Estado.

Nada disso ocorrera ao Zaid, pois aquilo era pela graça de Deus, Que a concede a quem Lhe apraz, porque Deus é Aquele com ilimitadas graças.

Apenas uns poucos anos haviam passado após o incidente em que lhe foi dada a escolha, e Deus envolveu o Seu Mensageiro (S) com a religião da diretriz e da verdade. Zaid foi o primeiro homem a acreditar nele. Poderia alguém ultrapassar um primeiríssimo como esse? Nenhuma outra aquisição se compara a essa!

Zaid b. Háriça tornou-se um confidente dos segredos do Mensageiro de Deus (S), assim como um líder dos exércitos em tempo de guerra, e o deputado do Profeta (S) em Madina, quando este viajava.

Zaid amava o Profeta (S), sendo que o preferiu, aos seus prórios pais. O Profeta (S) lhe retribuía o amor, fazendo dele um membro da sua própria família, e compartilhando com ele tudo o que possuía. Se Zaid estivesse para sair numa viagem, o Profeta (S) sabia que iria sentir terrivelmente a sua falta; e sentia-se super jubiloso quando ele voltava, são e salvo.

A senhora Umm al Muminin Aicha descrevia uma cena que mostrava a alegria do abençoado Profeta (S) quando o Zaid voltava duma viagem; ela disse:

"Uma ocasião o Zaid voltava para Madina. O Mensageiro de Deus (S) estava no meu quarto quando o Zaid bateu à porta. O Mensageiro de Deus (S) pulou para abrir a porta, com nada mais que uma tanga que lhe cobria até aos joelhos; e foi pondo as roupas enquanto se dirigia para a porta. Juro por Deus que aquela foi a única vez em que vi o Mensageiro de Deus ficar de pé e caminhar sem as suas vestes."

O amor do abençoado Profeta (S) pelo Zaid era tão conhecido, que as pessoas o apelidaram de Zaid al Hubb (Zaid, o amado), e Hibb (o amado). O filho de Zaid, Ussama, tornou-se conhecido como Ibn Hibbi (filho do amado).

No oitavo ano da Hégira, Deus quis testar o Profeta (S), fazendo por separá-lo do seu amado amigo.

Aconteceu de o Profeta (S) enviar uma carta ao rei de Busrah, convidando-o ao Islam. O portador da missiva era o Al Háris b. Umair al Azdi, que foi apenas até Muata, a leste do Jordão. Nesse ponto foi barrado por um dos príncipes gassânidas, Churhabil b. Amr, que o capturou, amarrou-o e fez com que fosse executado em público, pela decapitação.

O abençoado Profeta (S) nunca tivera um dos seus mensageiros que fora morto, e ficou ultrajado. Assim, ele pôs uma força de três mil lutadores a marcharem sobre Muata, e colocou o seu amado amigo, Zaid b. Háriça no comando daquela força. O Profeta se dirigiu aos soldados:

"Se o Zaid for ferido, passai o comando para o Jafar bin Abi Tálib; e se o Jafar também for ferido, passai o comando para o Abdullah bin Rawaha; e se este também for ferido, que os soldados muçulmanos escolham o seu próprio líder."

O exército marchou até que chegou a Maan, na parte oriental do Jordão. Heráclius, o imperador de Bizâncio, madou uma força de 100.000 homens para proteger o Estado-satélite ghassânida, e juntaram-se a mais 100.000 dos árabes pagãos. Esse exército enorme estabeleceu acampamento próximo aos muçulmanos.

Os muçulmanos passaram duas noites em Maan discutindo e consultando-se sobre o melhor plano de ação. Algumas pessoas sugeriram que mandassem uma mensagem ao Profeta (S) perguntando-lhe o que deveriam fazer. Outras afirmavam que eles deveriam lutar, dizendo:

"Juro por Deus que as nossas batalhas não são encetadas com números ou fortidão, ou com suprimentos. Nossas batalhas são vencidas com fé. Devemos acabar o que começamos, pois, de todo modo, Deus nos tem garantida a vitória: ou vencemos a batalha, ou morreremos como mártires, e entraremos no Paraíso."

Os dois exército se chocaram em Muata, e os muçulmanos lutaram com tal ferocidade, que chegaram a assustar os bizantinos, enchendo-os de espanto com aqueles três mil muçulmanos que lhes desafiavam a enorme força.

O Zaid b. Háriça defendeu o estanderte do Mensageiro de Deus com um heroísmo sem precedente de qualquer um na história. Por fim, Zaid sucumbiu, com centenas de ferimentos causados pelas lanças do inimigo. Jafar b. Abi Tálib lhe tomou o lugar, agarrando o estandarte e defendendo-o com nobreza, até que ele, também, caiu como um mártir. Então o Abdullah b. Rawaha tomou o lugar de Jafar, segurando o estanderte e lutando forozmente, até que teve a mesma sorte dos seus dois companheiros.

Os combatentes muçulmanos deram o comando ao Khalid b. al Walid, que se havia recentemente convertido ao Islam. Ele reuniu o exército muçulmano e forçou os homens a se retirarem do campo, antes que ficassem totalmente aniquilados.

O abençoado Profeta recebeu a notícia da derrota em Muata e da morte dos seus três líderes. Nunca havia estado tão intensamente pesaroso como ora estava, por eles. Ele foi para cada uma das casas deles, a fim de oferecer suas condolências às suas respectivas famílias. Quando chegou a casa do Zaid, a filhinha deste se atirou sobre o abençoado Profeta, soluçando. O abençoado Profeta a segurou, chorando tão alto, ele mesmo, que todos podiam ouvi-lo.

O Saad b. Ubada lhe perguntou:

"Por que estás chorando desse jeito, ó Mensageiro de Deus?"
"É muito natural que a gente chore pela morte de um ente querido", respondeu o Profeta (S). --

"Ó fiéis, atendei a Allah e ao Mensageiro, quando ele vos convocar à salvação. E sabei que Allah intercede entre o homem e o seu coração, e que sereis congregados ante Ele." 8:24

Agradecemos a Allah SW pelos irmãos que nos presenteou no islam. Omar que sua fé islâmica possa contaminar outras pessoas rumo ao paraíso.